Vamos enaltecer nossa constante hipocrisia; fingirmos ser felizes com a felicidade alheia e não vibrarmos com desastres, mortes, tormentas vividas pelo nosso semelhante. Continuemos a fingir, a mentir para nós mesmos, que por vezes nos arrependemos pelo mal causado a outrem; Vamos todos juntos na missa, no culto nos encontrar, buscar alívio para nossas consciências que atormenta e as vezes dela não conseguimos escapar. Vamos aclamar santos, vamos defender bandeiras, católicos, Protestantes, Cristãos, Maomé, Buda, mandamentos sempre certos, não podendo questionar a razão. Prossigamos cheio de temor, medo de nosso pai e Senhor, pois ele quer de nós joelhos rasgados, atos de penitencia, ver-nos humilhando-nos em busca do perdão. Isso é muito pouco, sinto falta de minhas lutas, minhas guerras, do sangue jorrado ao chão, então, atento, busco inimigos com atenção, bastando que não coadunem com meu pensar, bastando ser de outra crença ou religião. Vamos confessar nossos pecados aos Padres que infringem a natureza humana, do desejo, da libido, da procriação assim seremos perdoados, não importando que tenha sentido ou não. Sempre te procuro e te encontro, quando triste em depressão em cultos, pagando promessas te reencontro, estás sempre algo a pagar, a comprar, fingindo sempre acreditar que tudo, mesmo o perdão podemos assim possamos alcançar. Vamos fingir acreditarmos em tudo que ouvimos sobre um mundo inexistente, a realidade não interessa pelo menos aos presentes. Meus amigos os encontro em baladas de bar em bar, pois na missa, pois no culto é lugar pra se rezar. Repitamos automatizadas, contínuas orações, o medo de nós se apropriou, a necessidade de uma crença faz-se presente para a fuga, pouco importando as razões. Acaba a missa, finda o culto, nenhuma palavra a mais; todos para casa, dever cumprido, agora é seguir em frente sem olhar pra trás. Hoje recebo o corpo de Cristo, em forma de hóstia sagrada, por uma igreja assassina, que se auto intitula de santa, nas orações criadas, quiçá por um ateu, vez que todos podem criar menos o próprio Deus. Vamos fingir que a indiferença para com o próximo não é cada vez maior, que mudamos todo dia, mudamos sempre para melhor. Quando nisso eu não conseguir acreditar, antecipo o sermão, o culto, a presença na vigília, qualquer coisa que não me faça pensar. Agora, forte novamente estou cheio de forças pronto para atirar, naquele ateu nojento, alguém que eu possa com apoio de outros apedrejar. Enquanto outros eu firo, não sinto por dentro o sangue derramar, pelo mal que sempre faço, buscando outro acusar. Mas sei que um dia meus olhos vou fitar, sem fraquezas, não, não, dessa vez não irei fugir, vou meus monstros enfrentar. Seremos todos bem melhores, preciso assim pensar, dessa vez será de verdade, pois se errar o mal eu fizer, terá sido sem maldade, sem meu querer consciente, conseguindo eu mesmo, sozinho, feliz me perdoar. E só existirá amor, paz e verdade. Muito amor, muita paz, muita verdade.
Rômulo Soares Albuquerque